Startups de tecnologias limpas ganham relevância no contexto do enfrentamento da mudança climática.
Pizzi, da Agrosmart: novo modelo preditivo para ferrugem da soja em 2020 — Foto: Divulgação
Elas fazem mais por menos, contribuem com o meio ambiente e possuem modelos de negócio rentáveis. As startups de tecnologias limpas, conhecidas como cleantechs, vêm ganhando relevância no contexto do enfrentamento das mudanças climáticas. China, Alemanha e Estados Unidos lideram o setor, que movimenta US$ 1,15 trilhão anuais. Dinamarca, Finlândia e Suécia concentram as empresas mais inovadoras, de acordo com o Global Cleantech Innovation Index, publicação do World Wide Fund for Nature (WWF) e do Cleantech Group. O Brasil tem empresas promissoras, mas ocupa o trigésimo lugar nesse ranking. Entre os obstáculos está a dificuldade de acesso a crédito.
Um estudo da Fundação Getulio Vargas (FGVces), em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), a EDP Brasil e a Associação Brasileira de Startups (Abstartups), fez o mapeamento das cleantechs nacionais. As 136 empresas que se enquadram na definição atuam em oito segmentos: energia limpa; armazenamento de energia; eficiência energética; transporte; ar & meio ambiente; indústria limpa; água e agricultura. Dois terços delas estão em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Florianópolis e Porto Alegre. As universidades estaduais de Campinas (Unicamp/SP) e de Itajubá (Unifei/MG) são referências no fomento.
Oito em cada dez cleantechs já cooperaram com grandes empresas, mas predomina o pouco comprometimento entre as partes, por causa da lentidão do processo decisório e da dificuldade de encontrar o ponto focal. A articulação precária entre mercado e academia também atrapalha. “Em termos de capital humano e cultura empreendedora, há desafios como transformar o conhecimento gerado nas universidades em soluções comercializáveis e inserir disciplinas de empreendedorismo na grade curricular do ensino médio e superior”, diz a gestora de projetos da FGVces, Ana Coelho.
Um dos destaques do setor é a Polen, fundada em 2017 no Rio de Janeiro como “marketplace” de resíduos urbanos e industriais. Entre seus 1,7 mil clientes em nove países estão grandes siderúrgicas como ArcelorMittal e Gerdau. A Polen faz a gestão mais de 400 mil toneladas de resíduos, utilizando tecnologia de internet das coisas (IoT em inglês) na logística e de blockchain nas operações de compra e venda. Seu fundador, o ecólogo Renato Paquet, vê grandes oportunidades em áreas como saneamento: “No Brasil a perda média de água é de 34%”, ressalta.
A Agrosmart, criada em Itajubá e com sede em Campinas, usa inteligência artificial e sensores de IoT para aumentar a eficiência na irrigação das lavouras. O resultado é a economia média de 30% de energia elétrica, 20% a 30% de água e até 10% na produtividade. Outro produto consegue prever a ocorrência de ferrugem do café com sete dias de antecedência e 85% de margem de acerto. “Em 2020 vamos lançar um modelo preditivo para ferrugem da soja”, diz um dos fundadores, Raphael Pizzi. Em julho a cleantech recebeu R$ 22 milhões de investidores para acelerar a internacionalização.
Fundada há dois anos em Vila Velha (ES), a One Grid usa IoT para reduzir até 40% na conta de energia em prédios comerciais, escolas, universidades e consultórios. Seu modelo de negócio é de assinatura mensal. “O cliente não precisa fazer investimento inicial e paga apenas quando chega a conta da concessionária”, explica um dos sócios, Tuffy Nader. No ano passado a startup ficou entre os sete finalistas do programa de aceleração Scale-Up Denmark, entre 1.380 projetos, e recebeu aporte do fundo Criatec 3, da Inseed Investimentos.
A Way2, criada em 2005 em Florianópolis por graduandos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), também usa IoT para auxiliar os clientes empresariais na redução de consumo de energia ou na adequação de contratos. Em 2019, sua solução atingiu 1,5 mil pontos monitorados. “Lançamos um programa de canais, de forma que toda a cadeia de soluções energéticas possa contar com a ferramenta, gerando mais valor e fidelizando seus clientes finais”, conta o diretor de produtos e marketing Danilo Barbosa. A expectativa dos sócios é chegar a 5 mil pontos e crescer 40% em 2020.
Fonte: Globo/Valor Econômico