Como parte do Acordo de Paris, de combate às mudanças climáticas, a China prometeu atingir o pico de suas emissões de gás carbônico (CO2) até 2030. Mas alguns sinais indicam que o país, maior emissor mundial de gases de efeito estufa, já tenha cumprido a promessa ou, se não, que está próximo de cumpri-la — ainda que de forma indireta.
As emissões de CO2 chinesas atingiram em 2013 cerca de 9 gigatoneladas, taxa que diminuiu progressivamente entre 2014 e 2016, após quase duas décadas de rápido crescimento econômico. Se já não cresce como antes, a China tampouco emite gases vilões do clima como antes.
De acordo com um estudo publicado na revista Nature Geoscience, o declínio na participação do carvão na matriz energética chinesa, cada vez mais baseada em fontes renováveis, e a redução na intensidade energética nos processos produtivos (energia por unidade do PIB) e de emissões (emissões por unidade de energia) contribuíram para um declínio médio de emissões do país de 4% ao ano entre 2014 e 2016.
A reversão de tendência naquele período levou alguns pesquisadores a postular que o pico de emissões da China fora atingido. Uma questão em aberto porém é se esse declínio pode ou não ser sustentado nos próximos anos ou mesmo acelerado. Se as emissões chinesas caíram principalmente como resultado da desaceleração da atividade econômica, como aconteceu nos EUA durante a crise financeira global, o crescimento econômico renovado poderia reverter essa queda.
Em 2017, por exemplo, a China se recuperou e viu sua economia crescer 7%, a primeira aceleração em relação ao ano anterior que o país vivenciou desde 2010. Apesar do salto econômico, as emissões aumentaram apenas 1,7% (ou 150 milhões de toneladas), graças à continuidade da implantação das energias renováveis e comutação mais rápida de carvão para gás.
Para a análise do futuro das emissões do gigante asiático, as equipes britânicas da Universidade de Cambridge e da University College London (UCL), juntamente com pesquisadores na China e nos EUA, exploraram os altos e baixos do país cruzando informações sobre os motivadores das emissões de CO2 chinesas de 2007 a 2016, e os dados mais recentes disponíveis sobre energia, economia e indústria.
Eles advertem que as emissões da China podem flutuar nos próximos anos, o que poderia originar outro pico. No entanto, a queda no consumo energético do poluente carvão e a melhora na eficiência industrial — fatores que explicam o recente declínio nas emissões — têm raízes na estrutura em mutação da economia chinesa e em políticas governamentais de longo prazo, avaliam os pesquisadores.
De certa forma, é possível ser otimista com o potencial futuro de emissões em marcha lenta da China. “Concluímos que o declínio das emissões chinesas é estrutural e é provável que seja sustentado se as crescentes transições do sistema industrial e de energia continuarem. As políticas governamentais também são um sinal de que o declínio das emissões da China continuará”, diz em comunicado Dabo Guan, um dos líderes da pesquisa.
“Em resposta à retirada dos EUA do Acordo de Paris, a China assume cada vez mais um papel de liderança na mitigação da mudança climática, e seus relatórios de progresso de cinco anos sob o acordo serão fortemente examinados pelo resto do mundo”, acrescenta.
Se depender dos planos atuais para o setor, o país deve se manter nos trilhos. Exemplo disso é o maior esquema nacional de comércio de emissões de carbono do mundo, que o país lançou no começo deste ano e que deverá substituir os setes esquemas municipais ou regionais em operação por lá, em lugares como Pequim, Shenzhen e Guangdong.
O sistema, chamado de cap and trade, consiste, em linhas gerais, na fixação de um limite para emissões de carbono e a autorização para que as companhias que o excederem possam comprar parte da cota das que ficarem aquém.
A China também prometeu melhorar a intensidade energética nacional para o período 2015-2020, o que se traduzirá em redução de emissões nos próximos anos, prevê o estudo.
Uma recente diretiva de política chinesa para limitar o consumo de carvão, de quatro bilhões de toneladas por ano, exige que sua proporção no mix de energia diminua de 64% em 2015 para cerca de 60% até 2020. Tais pressões sugerem que a tendência de queda das emissões deve continuar.
Segundo os pesquisadores, a perspectiva otimista deve, é claro, vir acompanhada de uma dose de cautela. “Tanto as emissões quanto os fatores subjacentes precisarão ser cuidadosamente monitorados, mas o fato de as emissões da China terem diminuído por vários anos – e, mais importante ainda, as razões – dão esperança de novas quedas no futuro”, concluem.
Fonte: Exame (goo.gl/iB8caF)