Uma pesquisa realizada pela consultoria DOM Strategy Partner, baseada em entrevistas com os executivos de 223 das 500 maiores empresas brasileiras, identificou os dez erros mais representativos em sustentabilidade nas companhias. Entre as falhas mais recorrentes presentes nas práticas de sustentabilidade das companhias, visão e valores dispersos e desalinhados aparece como o erro mais comum em 79% das empresas analisadas pela DOM. Mensuração inexistente, comunicação oportunista e falta de realismo também aparecem na pesquisa.
Segundo Daniel Domeneghetti, autor do levantamento e CEO da DOM Strategy Partners, a sustentabilidade finalmente tem deixado paulatinamente de ser enxergada apenas como custo para as companhias e já está presente no rol dos ativos intangíveis, devido à introdução de valor aplicado ao conceito e à sua maior conexão ao negócio, ao core business das empresas.
Entretanto, infelizmente, em períodos de dificuldade macroeconômica ou mesmo setorial, a Sustentabilidade como área ainda paga o preço de ser enxergada pelos executivos de negócio e mesmo acionistas como algo desejável, mas não urgente; secundário, ainda que estratégico. Decorrência disso, muitas empresas grandes vêm cortando posições, investimentos e práticas em suas respectivas áreas de Sustentabilidade, à luz da situação atual dos mercados e das perspectivas negativas para a economia brasileira.
“Houve um avanço tanto na compreensão quanto na atuação das empresas para trazer conceitos sustentáveis para o ambiente das grandes preocupações corporativas. Esse movimento reflete bem no estudo, pois percebemos, que mesmo havendo erros, os líderes estão cientes de que sustentabilidade é uma fonte de valor, inovação e diferenciação no mercado”, diz Domeneghetti.
Os dez erros da sustentabilidade nas empresas apontados em percentuais na pesquisa foram:
1. Visão e valores dispersos e desalinhados (79%) – O conceito de sustentabilidade é restrito a apenas um departamento ou uma liderança, sem permear toda a empresa o que impossibilita a compreensão de todos os colaboradores, causando a dispersão e diversidade na discussão do tema. As ideias que surgem espontaneamente devem ser direcionadas de forma correta, sem ser reprimidas. O alinhamento a uma mesma ambição é essencial e deve vir de cima.
2. Inconsistência de governança (74%) – Apesar de admitirem sua importância, as empresas ainda tratam a sustentabilidade como uma prática solta dentro da empresa. Mesmo com todo o discurso, o tema ainda não ganhou o apoio das lideranças. Além disso, não existem sistemas de gestão bem estruturados (executivos, orçamentos, metas, responsabilidades, entre outros). Um dos agravantes dessa situação é quando a gestão do conhecimento de sustentabilidade, um dos principais elementos viabilizadores, não existe e o conhecimento se encontra disperso e implícito.
3. Mensuração inexistente (72%) – Esse erro ainda é um dos mais citados devido à quantidade de empresas interessadas em implementar estratégias ou iniciativas de sustentabilidade, mas que não conseguem fazer de forma adequada. Os aspectos tangíveis, intangíveis e a devida mensuração são ignorados e interferem diretamente nos resultados. A pesquisa aponta que isso é reflexo da baixa maturidade da governança do tema em muitas empresas.
4. Inconsistência na fixação de prioridades (65%) – A sustentabilidade pode não atingir os objetivos de todos os envolvidos, devido às prioridades desencontradas, seja por falta de materialidade (aspirações, desejos e ideais pouco factíveis) ou relevância. Dessa forma, gera frustração e resultados pouco tangíveis para a empresa ou, até mesmo, prejuízos financeiros e de reputação.
5. Dissociação do core business (62%) – O negócio principal da empresa precisa ser inserido na estratégia de sustentabilidade. Apoiar causas que se distanciam de seu propósito, práticas, processos, produtos e serviços centrais minimizam o impacto das ações e prejudica as perspectivas.
6. Comunicação oportunista ou ineficiente (61%) – A comunicação é parte fundamental da estratégia, pois se for inconsistente, pode não engajar o público interno e ser insuficiente para os demais stakeholders. Pior ainda, pode ser vista como uma ação oportunista, prejudicando a credibilidade da empresa e suas iniciativas. Investir na comunicação responsável e contínua é a melhor saída que existe para mitigar o risco e atingir os perfis certos. As empresas devem conhecer bem seus diversos públicos, adequando a linguagem, o canal e a abordagem a cada um.
7. Miopia em relação aos resultados potenciais (61%)– Ainda não são claras para as empresas as oportunidades de gerar e proteger o valor oriundo das iniciativas de sustentabilidade. Mais do que obrigação por pressão social, o conceito precisa ser um motor facilitador para a inovação, eficiência operacional, diferenciação dos competidores e fonte adicional de receitas por novos produtos, serviços ou canais.
8. Baixa percepção de impacto sistêmico no entorno (51%) – Os impactos sistêmicos (ou bilaterais) da sustentabilidade, sejam da empresa para os stakeholders ou o inverso, ainda não são percebidos com facilidade pelos executivos. Por essa razão, não são aproveitadas as ideias provindas do entorno da empresa, reduzindo o potencial impacto decorrente da sinergia entre esses dois polos.
9. O viés unidimensional (39%) – O equilíbrio entre as dimensões ambientais, sociais e econômicas (e em alguns casos as culturais) são o que norteiam a sustentabilidade corporativa. Os pesos e a importância são determinados de acordo com as prioridades de cada companhia. Caso uma das dimensões não seja incluída no projeto, o resultado final não trará benefícios, mesmo que em curto prazo pareça dar certo, pois dificulta o planejamento e não visa a todos os stakeholders.
10. Falta de realismo (43%) – Toda e qualquer iniciativa sustentável precisa ser planejada de acordo com o segmento e estratégia de atuação da empresa. De outra forma, corre-se o risco de traçar metas distorcidas com a realidade e os resultados tendem a ser subvalorizados.
Fonte: Administradores (http://goo.gl/9pXkAX)