A gaúcha Raíssa Müller, 19 anos, foi uma das cinco selecionadas para o programa americano Village To Raise a Child, que incentiva projetos de inovação social desenvolvidos por jovens do mundo inteiro. O evento, promovido pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, ocorre no dia 8 de novembro, na sede da instituição, em Cambridge. A estudante de Novo Hamburgo trabalhou por um ano na criação de um filtro que absorve óleos e repele água, projetado para a limpeza de rios, lagos e oceanos poluídos.
O objetivo do programa criado por alunos, ex-alunos e professores de Harvard é premiar projetos que tenham potencial de modificar o ambiente onde os inscritos vivem. Raíssa vai apresentar seu projeto a investidores no encontro anual e contar como a ideia surgiu: da lembrança de um desastre ambiental no Rio dos Sinos, que circunda a região onde mora. Em 2006, a falta de oxigenação da água do rio, causada pela poluição, matou toneladas de peixes.
— Eu tinha 11 anos e já pensava numa esponja para limpar a água, parecia tão simples — conta.
A ideia mostrou-se mais complexa do que a menina pensava. Uma esponja absorveria a água suja, e não apenas o resíduo poluente. No ano passado, a aluna do último ano do curso de química da Escola Técnica Liberato se voluntariou para, junto com o colega Gabriel Chiomento, pesquisar um elemento poroso que sugasse apenas óleo e derivados. O escolhido foi o criptomelano, um mineral à base de óxido de manganês que tem a capacidade de absorver até 22 vezes o seu próprio volume.
A substância teve que passar por várias etapas e testes até resultar em um filme pronto para a aplicação. Além de evitar a contaminação em locais onde ocorre vazamento de óleo, o produto criado pelos estudantes é reutilizável e permite a recuperação do líquido absorvido.
A professora Schana Andreia da Silva, orientadora da dupla, diz que a ideia se modelou no decorrer da pesquisa, mas com foco fixo no problema de derramamentos de petróleo e remoção de óleo de cozinha mal descartado. Para chegar ao resultado final, Raíssa e Gabriel utilizaram reagentes e laboratório da escola, mas precisaram pagar eles mesmos pelos componentes indisponíveis, como o óleo de silicone que serve para repelir a água.
— A pesquisa é voluntária e sem bolsa. Ajudamos no que podemos, mas, às vezes, os alunos gastam do próprio bolso, infelizmente — afirma Schana.
A falta de recursos pode fazer com que o projeto fique apenas nos testes em pequena escala. Raíssa diz que o laboratório não tem espaço, equipamentos e reagentes para a produção de blocos de criptomelano na quantidade necessária para limpar um grande derramamento de óleo ou até mesmo um rio pequeno.
— As pessoas aqui parecem querer um produto pronto, não incentivar a ideia de um jovem — diz a menina, que venceu a premiação estrangeira Google Science Fair, que também incentiva ideias inovadoras de estudantes, em julho deste ano.
Para arrecadar fundos para o projeto, Raíssa e os outros estudantes selecionados no Village To Raise a Child criaram uma campanha de financiamento coletivo. Além de Raíssa, estudantes do Sri Lanka, Nepal, Filipinas e mais uma estudante brasileira, da Bahia, participam do programa. Raíssa viaja para os Estados Unidos no dia 1o de novembro para passar 10 dias em Harvard. Na volta, quer se formar e começar a estudar para o vestibular. Sonha em psicologia e neurociência, mas não pretende abandonar a química:
— Entender os canais de sódio e potássio vai ajudar bastante.
Fonte: Kzuka (http://goo.gl/jfvsGE)
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