A Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) suspendeu nesta quarta-feira as atividades da empresa Cettraliq, investigada por ter relação com as alterações no cheiro e no sabor da água em Porto Alegre, que persistem há mais de dois meses. A empresa, que tinha autorização para lançar o resultado do processamento de resíduos industriais na casa de bombas da Trensurb, está proibida de despejar efluentes no Guaíba por tempo indeterminado.
— Não vamos afirmar que (a Cettraliq) é a responsável (pelos problemas na água). Sozinha, não. Mas ela pode ter contribuído para isso — disse a secretária do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Ana Pellini.
Segundo o órgão estadual, o motivo da autuação é que a companhia está “emitindo odores acima do limite estabelecido pela licença ambiental”. O cheiro nas proximidades da empresa é forte e assemelha-se ao sentido na água tratada nos últimos meses.
Apesar do cheiro ruim ser percebido por quem passa pelo local há mais de dois meses, a Fepam admitiu existirem outras motivações para a interrupção das atividades ter ocorrido apenas agora: a empresa não teria adotado as medidas solicitadas pela Fepam para mitigar o problema. Agora, a Cettraliq terá 10 dias para apresentar um plano de ação ou de desativação da companhia.
Conforme a Fepam, em julho, foi solicitado à empresa que providenciasse soluções para o problema. Além de enclausurar os tanques de tratamento (que ficam a céu aberto), ela teria de apresentar um plano de tubulação própria para despejar os resíduos, que atualmente chegam à Trensurb, diretamente no Guaíba.
Também foi pedido à Cettraliq que buscasse uma maneira de monitorar a entrada de compostos voláteis, que emitem cheiro ruim, na chegada dos efluentes à companhia. Esses compostos estão previstos na licença ambiental, mas só podem ser recebidos pela empresa em concentrações muito pequenas.
— Essa empresa foi autuada muitas vezes no passado, também por esse motivo (do odor). Mas, à época, atendeu a um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC). Recentemente, o odor foi ficando mais forte, prejudicando a vizinhança. O local se tornou inadequado — avaliou Ana.
Localizada na zona norte da Capital, a empresa que trata efluentes líquidos de cerca de 1,5 mil clientes é licenciada pela Fepam, mas atuava de forma irregular na Capital. Anteriormente, a secretária do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável chegou a afirmar que o órgão teria “certa dependência” na Cettraliq, única empresa de Porto Alegre e uma das únicas do Estado habilitada a fazer esse serviço.
Com a suspensão das atividades da empresa, restarão poucas opções aos clientes da Cettraliq. Há apenas outras três prestadoras desse tipo de serviço, de porte bem menor, que podem realizar atividade semelhante no Rio Grande do Sul. Embora admita que há “preocupação” com o destino dos resíduos dessas companhias, a titular da Fepam afirmou que há opções fora do Estado e disse confiar na possibilidade de que a Cettraliq vá atender às exigências do órgão ambiental.
— As empresas que não podem tratar os seus resíduos sabem que tem de encaminhá-los para uma companhia que possa fazer isso. As maiores já sabemos, por sondagens, que já estão buscando alternativas. As que geram pouco se supõe que vão armazenar os efluentes por um tempo. Sempre resta uma esperança de que possamos equacionar o problema — disse.
A Fepam disse que, enquanto as atividades da empresa Cettraliq estiverem paralisadas, o Departamento de Esgotos Pluviais (DEP) deve realizar a limpeza da rede de esgotos pluviais e das caixas coletoras da região. Até o fim da tarde desta quarta-feira, a informação não foi confirmada pelo DEP.
Empresa diz que irá recorrer de suspensão
A central de tratamento de efluentes entrou na rota de investigações da Fepam sobre as alterações na água por estar localizada na região onde o odor sentido na água é mais forte. Ainda em julho, por medida de “precaução”, o órgão pediu à empresa que instalasse um filtro de ozônio ao final do tratamento para degenerar possíveis substâncias que possam estar contaminando a água. Segundo a advogada da empresa, a medida foi tomada, e o equipamento estaria “em fase de testes”.
Em nota, a Cettraliq disse ter recebido “com surpresa” a autuação da Fepam e informou que vai recorrer da decisão do órgão ambiental. No texto, a empresa, que passou por uma vistoria na terça-feira, afirmou ter recebido sugestões de “melhorias e prazo para adequação do processo de tratamento” dos técnicos da Fepam.
“A comitiva conheceu todo a tecnologia empregada no tratamento de efluentes de terceiros, de emissões atmosférica e o destino dos resíduos sólidos gerados e reconheceu, na ocasião, que os odores e gosto da água de Porto Alegre não são proveniente da empresa”, escreveu a companhia, que se disse disposta a contribuir, “de todas as formas possíveis”, para a identificação das causas das alterações na água da Capital.
Problema de informação
Na última segunda-feira, a Cettraliq divulgou o laudo de uma série de análises que a própria empresa solicitou a fim de demonstrar a ausência de relação entre a sua atividade e o cheiro da água de Porto Alegre. Um dos laboratórios responsáveis pelo trabalho foi o Umwelt Biotecnologia Ambiental, localizado em Blumenau, que seria ligado à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Questionadas pela reportagem, tanto a universidade quanto o laboratório negaram essa ligação apontada pela Cettraliq. Por meio de comunicado assinado pelo professor Aureo Moraes, chefe de gabinete do reitor, a UFSC afirmou que “não mantém, em nenhuma de suas unidades em Florianópolis, Blumenau, Curitibanos, Araranguá e Curitibanos, qualquer vínculo formal com a empresa Umwelt Biotecnologia Ambiental. Qualquer menção a tal vínculo revela-se inteiramente falsa”.
Por telefone, a advogada da Cettraliq informou que o equívoco partiu da assessoria de imprensa que elaborou o relise enviado aos meios de comunicação.
Fonte: ZH (http://goo.gl/yfyuRo)