IFRS S1 e S2 marcam um novo capítulo no universo ESG, trazendo clareza, objetividade e padronização ao relato corporativo de sustentabilidade.
Introdução: O papel dos IFRS S1 e S2 no ESG
O ESG no mundo corporativo (governança ambiental, social e corporativa) sempre foi um terreno fértil para confusões e sobreposições de frameworks. As empresas, pressionadas por investidores e pela sociedade, passaram anos tentando definir quais frameworks adotar, quais práticas implementar e como a sustentabilidade poderia agregar valor real ao negócio.
O resultado disso foram relatórios muitas vezes superficiais, excessivamente complexos e pouco estratégicos — especialmente para quem realmente deveria se beneficiar dessas informações: o mercado e os tomadores de decisão.
Uma nova era: consolidação e padronização
Agora vivemos uma transição necessária. A International Financial Reporting Standards Foundation (IFRS) lançou os padrões IFRS S1 (divulgações financeiras relacionadas à sustentabilidade) e IFRS S2 (divulgações financeiras relacionadas ao clima). Esses padrões foram desenvolvidos pelo International Sustainability Standards Board (ISSB) e, no Brasil, foram tropicalizados sob as diretrizes CBPS01 e CBPS02. Tais diretrizes atendem à Resolução CVM 193, que obriga empresas de capital aberto a publicarem relatórios baseados no IFRS a partir de 2027 (referente ao exercício de 2026).
De múltiplos frameworks para um padrão único
Durante muito tempo, diversas iniciativas competiram entre si ou se complementaram de maneira confusa. A proposta do IFRS é justamente consolidar o que havia de melhor nos frameworks anteriores, com foco nas divulgações financeiras relacionadas à sustentabilidade e ao clima.
Os principais frameworks incorporados:
- SASB (Sustainability Accounting Standards Board): primeira diretriz com foco em materialidade financeira, voltada ao investidor.
- TCFD (Task Force on Climate-related Financial Disclosures): influenciou fortemente a estrutura lógica do IFRS S2.
- IR (Relato Integrado): buscava conectar aspectos financeiros e não financeiros, com críticas por sua abordagem excessivamente conceitual.
O que são os padrões IFRS S1 e S2?
- IFRS S1: Define a estrutura para relatar todas as informações ESG que sejam materialmente relevantes para investidores. O foco não está em mostrar o que se faz mais ou menos, mas em relatar o que é essencial para a tomada de decisão.
- IFRS S2: Especifica como relatar riscos e oportunidades climáticas, sendo uma evolução direta do TCFD, mas com forte enfoque financeiro.
Esses dois padrões são complementares. Juntos, eles fornecem um conjunto completo de informações necessárias para avaliar a saúde financeira e estratégica das empresas sob a ótica da sustentabilidade.
Principais mudanças com a adoção dos IFRS S1 e S2
- De voluntário para obrigatório: Os padrões deixam de ser opcionais e se tornam obrigatórios para empresas de capital aberto em vários países, inclusive no Brasil.
- De múltiplas escolhas para um padrão global: Antes, as empresas seguiam formatos variados, muitas vezes sem foco no investidor. Agora, há uma diretriz clara e uniforme.
- Do excesso para a relevância: Com base na materialidade financeira, a empresa deve reportar apenas o que pode afetar de forma significativa sua posição econômica.
IFRS e GRI: conciliação ou concorrência?
Diante dessas mudanças, surge uma dúvida comum: o Global Reporting Initiative (GRI) ainda é relevante?
A resposta é sim. O GRI deve continuar sendo o padrão mais utilizado no mundo para reportar dados de sustentabilidade. Seu formato amigável e a abordagem centrada em materialidade de impacto o tornam um excelente complemento aos IFRS.
Enquanto IFRS S1 e S2 focam no que afeta financeiramente a empresa, o GRI destaca os impactos da empresa sobre o meio ambiente, a sociedade e a economia, independentemente do retorno financeiro direto.
Conclusão: A grande virada nos relatórios de sustentabilidade
A grande virada promovida pelo ISSB com os IFRS S1 e S2 é a mudança de foco: o que importa agora é fornecer aos investidores informações confiáveis, tempestivas e comparáveis.
Ambos os modelos — GRI e IFRS — continuarão coexistindo, servindo a públicos distintos. Cabe às empresas compreender seus stakeholders e direcionar esforços para os modelos que melhor os atendam.