Inovação em matéria de hotelaria é adubo para muitos campos. Ela pode casar com a tecnologia e gerar quartos inteligentes; pode fazer par com a sustentabilidade e poupar os recursos naturais; pode buscar o encantamento arquitetônico e flertar com o belo e pode cortejar a história, sobrepujando-a para congelar ares do passado.
No Brasil, alguns empreendimentos hoteleiros estão em sintonia com as tendências atuais mais arrojadas e buscam implementar atividades de menor impacto sobre o ambiente, uma das principais tônicas mundiais.
No litoral norte da Bahia, a Praia do Forte acolhe dois hotéis cinco estrelas, o Iberostar Praia do Forte Golf & Spa, que se estende por mais de 2 milhões de m². O complexo, com quase mil quartos, fica numa região de desova de tartarugas marinhas e foi planejado de modo a preservar esse que é um dos maiores berçários da América do Sul. Para tanto, toda a obra foi construída distante do litoral, para permitir a movimentação das tartaruguinhas em direção ao mar.
Orientados por biólogos do Projeto Tamar, os administradores do resort também adotaram a iniciativa de reduzir as luzes do entorno através de sensores automatizados, à noite, pois elas precisam da luminosidade natural do mar para para se guiar durante a desova. “Os hotéis não servem alimentos na praia e não têm bangalôs fixos na areia”, diz o diretor de Operações Jesus Bosque. A redução do consumo de água e energia elétrica é outra bandeira: ao todo, o complexo tem 260 placas de energia solar para aquecer a água dos quartos, e na lavanderia, por onde passam diariamente 25 mil peças, foi implantado um processo de reuso de água que permite economia de 50%.
Cravado em plena reserva de Mata Atlântica, na região serrana de Campos de Jordão (SP), o Hotel & Spa Botanique é outro que privilegiou a intimidade com a vegetação local e sua preservação.
Com 11 vilas individuais e uma “mother house” com seis suítes, restaurante, biblioteca e spa, o projeto de 7 mil m² da arquiteta Cândida Tabet, em terreno adquirido pelo casal Ricardo e Fernanda Semler, oferece vista desobstruída em 360º para um vale de rio, proporcionada por grandes painéis de caixilhos de vidro, e foi assentado sobre um rico acervo de material de demolição. “São 250 m³de madeiras centenárias garimpadas durante anos que conferem à obra a sua sustentabilidade e harmonia com o entorno”, diz Cândida.
No Pullman São Paulo Vila Olímpia, do AccorHotels, quem dá as boas-vindas ao hóspede é a tecnologia on demand. O quarto do futuro, batizado de #360room, permite que o cliente ajuste todo o ambiente ao seu gosto, diz Paulo Mancio, vice-presidente de design e construção. Ao girar a cama em torno de um eixo central, por exemplo, ele pode ajustá-la em direção à janela ou contra a luz do sol, e pode escolher a vista para o Parque do Povo ou para uma tela de cinema de 85 polegadas.
Todas as funcionalidades do quarto – iluminação, sonorização, ar-condicionado, cortinas, room service e até as informações fornecidas pela TV, como as de voo ou a previsão do tempo – são customizadas por comando. Sobre o criado-mudo, ao lado da cama, o carregamento do smartphone é feito por indução para aparelhos iphone 8 ou mais modernos e, dentro do armário, no banheiro, o LG Styler é um equipamento que lava, seca e passa roupa a vapor. É só colocá-la no cabide e fechar a porta.
Já no tradicional hotel Ca’d’Oro, no centro de São Paulo, o tempo corre em outra raia. Depois de fechar suas portas em 2009, após mais de meio século de atividade ininterrupta, o negócio da família Guzzoni voltou a operar reinventado. Além de relíquias, como um raro piano de cauda Erard, fabricado na França em 1850, obras de arte e sinais da passagem de hóspedes como Di Cavalcanti, Luciano Pavarotti, Nelson Mandela e Pablo Neruda, o projeto harmoniza diversos usos. “São duas torres de 3500 m² cada – uma residencial e outra híbrida, com salas comerciais e 147 quartos de hóspede -, com entrada por ruas distintas”, diz Aurélio Guzzoni.
Fonte: Valor Econômico (goo.gl/DuFh61)