A construção civil nacional ganha uma nova ferramenta que visa a melhorar os índices de sustentabilidade dos empreendimentos. Em processo de implantação no Brasil, a certificação Edge (Excellence in Design for Greater Efficiencies) é oferecida pelo International Finance Corporation(IFC), entidade ligada ao Banco Mundial e que fomenta iniciativas privadas. O selo também deverá ser usado em toda a América Latina.
“O objetivo do Edge é atingir as metas estabelecidas durante a COP 21, cúpula do clima de Paris”, afirma o engenheiro Nilson Sarti, presidente da Comissão do Meio Ambiente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CMA–CBIC). A entidade é apoiadora da iniciativa e está organizando uma série de workshops, chamados Edge Experts, para treinar as construtoras no manuseio da ferramenta.
NO BRASIL
O procedimento de implantação do Edge no Brasil está avançado. Alguns empreendimentos localizados no Ceará, Minas, São Paulo e Rio de Janeiro já estão pré-certificados. “O caminho agora é assinar um protocolo com o Banco Mundial, realizar a primeira rodada do Edge Experts e começar a fazer as certificações. Entendemos que a velocidade será um pouco menor em virtude da crise econômica. Mas, na retomada do crescimento, a tendência é ter a certificação incorporada pelo setor da construção”, informa Sarti.
CONHECENDO A FERRAMENTA
O Edge se baseia em um sistema online que contém informações sobre o consumo de água e energia das construções típicas de cada região. A certificação é obtida pelos empreendimentos capazes de reduzir em, pelo menos, 20% o uso de água, eletricidade e também da energia utilizada na fabricação dos materiais empregados no projeto. “Com isso, todos os elos da cadeia da construção são atingidos”, explica o especialista.
Com o passar do tempo, a ferramenta tem potencial de ir aumentando seu nível de exigência. Como a redução de 20% é comparada com a média dos demais empreendimentos da região, se a maioria alcançar esse desempenho, a nota de corte passa a ser mais alta. “O objetivo seria atingir mais 20% de redução sobre aqueles 20% conquistados anteriormente”, fala o engenheiro.
Já disponível para quem tiver interesse em consultá-la, a ferramenta é gratuita. “Só é necessário pagar algum valor quando for realizada a certificação”, ressalta Sarti, indicando que os custos são bem menores se comparados aos de outros selos disponíveis no mercado – razão pela qual se destina às pequenas e médias construtoras e incorporadoras, que têm dificuldades em arcar com os custos de outras certificações. “Segundo Edward Borgstein, analista do IFC no Brasil, o investimento chega a ser 1/10 do LEED (Leadership in Energy and Environmental Design)”, completa.
COMPARAÇÕES
Para Sarti, LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) e AQUA-HQE, certificações mais comuns no Brasil, têm amplitude maior e são bastante procuradas pelos empreendimentos AAA. “O Edge não colide com essas ferramentas, mas funciona como complementação. Recentemente, fizemos pela CBIC testes em algumas edificações que receberam o LEED ou o AQUA-HQE. Depois que a nova ferramenta foi implantada nesses projetos, o desempenho melhorou”, diz.
FUNCIONAMENTO
De acordo com o engenheiro, a ferramenta é bastante intuitiva e autoexplicativa. “Na primeira vez em que é utilizada, pode gerar dúvidas. Mas depois fica bastante simples de ser manuseada”.
Os parâmetros do empreendimento podem ser testados enquanto o projeto é elaborado. Assim, ao informar os dados do projeto arquitetônico, por exemplo, a ferramenta responde com os níveis de eficiência que serão atingidos a partir daquelas soluções. “O Edge apresenta também uma ideia dos valores que serão necessários para implantar as soluções especificadas”, complementa.
A possibilidade de aferir o desempenho do projeto enquanto ainda está em desenvolvimento gera uma série de vantagens, como a redução de retrabalho e possibilidade de pensar em soluções diferentes para atingir os desejados níveis de desempenho. “Também é importante saber o quanto custa, afinal, muitas vezes se busca tecnologia que está fora do orçamento. Mas a certificação não diz qual tipo de produto deve ser usado, permitindo inovações e liberdade criativa”, fala Sarti.
PROCESSO DE CERTIFICAÇÃO
O processo de certificação começa com os responsáveis pela obra acessando o site e inserindo as características do projeto. “Se o desempenho necessário for atingido, os profissionais do Edge serão convocados para avaliar o projeto e conceder a certificação”, afirma o especialista, acrescentando que eles acompanham a obra e a entrega do empreendimento. “Essa não é uma certificação pós-implantação”, completa.
Edifícios certificados pelo Edge poderão conquistar também um selo do Banco Mundial. “Quando o consumidor vai comprar um eletrodoméstico, costuma procurar produtos com o selo Procel. O mesmo aconteceria com os empreendimentos que receberem esse selo. Inclusive, todos os parâmetros de energia que existem no Procel estão dentro do Edge”, destaca.
Fonte: AECweb (goo.gl/3m6mj8)