Criada por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa), a tecnologia nomeada “Ecolágua” utiliza raios ultravioleta (UV) para purificar água de rios e torná-la potável em poucos segundos. A ideia surgiu após apelo de indígenas, que revelaram mortes por ingestão de água contaminada no interior do Amazonas. Movido pela energia solar, o equipamento sustentável pode ser uma alternativa para problemas de escassez de água. O Ecolágua purifica até 400 litros de água por hora. O vídeo acima mostra o momento em que uma comunidade indígena recebe a tecnologia.
Situado em boa parte da Região Norte, o Rio Amazonas é o maior do mundo em volume de água doce. Apesar disso, muitas áreas ainda têm dificuldades em dispor de água tratada. Com o objetivo de mudar essa realidade, o “Ecolágua” foi oficialmente lançado em outubro deste ano. No Amazonas, a tecnologia já foi implantada em 19 comunidades do município de Benjamin Constant, como Cristo Rei e Santa Luzia, além de 10 equipamentos instalados em oito aldeias indígenas.
Segundo o desenvolvedor do equipamento, o pesquisador alemão Roland Vetter, a iniciativa para elaboração da tecnologia veio em forma de apelo. Índios da etnia Deni pediram ajuda para frear a ocorrência de doenças causadas por água contaminada. “Nós queríamos instalar para eles um secador solar para madeira e frutas. Eles disseram ‘É muito bom, mas não é disso que precisamos’. Eles estavam morrendo por ingerir água suja do rio Xeruã”, contou.
Conforme Vetter, 11 indíos Deni morreram vítimas de doenças diarreicas causadas por bactérias do grupo escherichia coli somente em 2005. O quadro clínico, semelhante ao da cólera, assustou os indígenas. Após dois anos de pesquisa, o primeiro conjunto provisório da tecnologia foi instalado em 2008 na aldeia Morada Nova. A iniciativa contou com a ajuda do Pastor Walter Sass, que trabalhava na época em nome do Conselho de Missão entre Índios (Comin).
De acordo com o pesquisador, a desinfecção da água ocorre porque os microorganismos, em contato com os raios ultravioleta tipo C, perdem a capacidade de se multiplicar. Em termos técnicos, a luz provoca um dano fotoquímico instantâneo no material genético das microbactérias, o que causa o efeito desinfetante. Além da purificação imediata da água, o equipamento utiliza apenas energia solar e bateria para funcionar, o que dá portabilidade à tecnologia para comunidades isoladas e aldeias, por exemplo.
A tecnologian
Anteriormente nomeado ‘Água Box’, o equipamento pesa cerca de 15 kg e pode “limpar” facilmente águas de rios, poços e da chuva. De acordo com o pesquisador Roland Vetter, águas de rios urbanos, como a Bacia do Turamã, em Manaus, ou o Rio Tietê, em São Paulo, também podem ser purificadas pelo equipamento, que realiza uma filtragem prévia para conter alguns resíduos sólidos, como areia e outros sedimentos.
O sistema simples necessita apenas de um rio ou afluente nas proximidades. A luz do sol é capturada por painéis solares, os quais mantêm carregada uma bateria dentro do equipamento. Desta forma, a tecnologia garante o funcionamento de uma lâmpada ultravioleta, responsável pela destruição dos microorganismos. A energia solar assegura ainda o desempenho do Ecolágua mesmo na ausência de luz, como durante as noites ou dias chuvosos, segundo explica Vetter.
“A água é um elemento que pode absorver os raios ultravioleta, que são emitidos por uma lâmpada situada em um tubo dentro da máquina. Assim, a água, que é bombeada de um rio, poço ou lago, para uma caixa d’água, passa por um filtro e chega a uma torneira, de onde já sai completamente limpa e potável”, disse ele ao ressaltar que o equipamento purifica até 400 litros de água por hora e pode amparar as necessidades de um grupo de cerca de 200 pessoas.
Com o processo de filtragem adequado – cujo equipamento específico é anexado ao Ecolágua -, o pesquisador do Inpa Ray Cleise, que fez parte da concepção da tecnologia, garante que águas turvas podem se tornar límpidas. Nesse sentido, a tecnologia pode ser uma alternativa também para resolver os problemas de seca em algumas regiões do país. “A lâmpada tem potência para trabalhar com todo tipo de água. Um afluente poluído, independentemente do grau, não ficará mais contaminado ao passar pelo Ecolágua”, ressalvou.
A máquina garante a eficiência de desinfecção em 99,99%, conforme testes feitos em laborátório. Uma mostra d’água coletada do Rio Solimões constatou a contaminação por bactérias Escherichia Coli, que estão presentes no intestino humano, além de índices de turbidez superiores ao admissível. Após o tratamento com a tecnologia, as bactérias foram destruídas e a turvação passou de 27,90 UNT – Unidade Nefelométrica de Turbidez – para 1,64 UNT.
O produto começou a ser disponibilizado no mercado há cerca de dois meses, pela empresa Qluz Ecoenergia. De acordo com o empresário responsável pela venda do produto, Roberto Lavor, a expectativa é de que a máquina beneficie não só brasileiros, mas também pessoas de todas as regiões do Brasil e do mundo. “Nós temos um grande potencial de água doce, que não é mais potável, pois está suja e cheia de impurezas. Vivemos na maior bacia hidrográfica do planeta, mas que não garante aos ribeirinhos o acesso à água potável. O ‘Ecolágua’ é um instrumento viável que torna a água potável de forma quase instantânea”, explicou Lavor.n.nSegundo Vetter, a tecnologia não garante a desinfecção de águas com metais pesados. Por esse motivo, o equipamento não pode ser instalado em locais próximos a áreas de garimpo. O Ecolágua deve ser instalado até o fim do ano em seis municípios no interior do Amazonas. Na capital, uma unidade demonstrativa foi montada no Bosque da Ciência, área do Inpa, na Zona Centro-Sul. Segundo Roberto Lavor, a empresa já articula com entidades da África e de países da América Latina para exportar a tecnologia.
Fonte: Globo.com (http://goo.gl/J1Gchp)