Desta vez, não houve meias palavras: segundo o último relatório emitido pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas (ONU), até 2050, megacidades localizadas à beira do mar e pequenos países insulares sofrerão os efeitos mais catastróficos.
O quarto relatório do IPCC diz respeito à criosfera – oceanos e zonas congeladas da Terra. Mesmo que o mundo consiga limitar o aquecimento global em 2°C, a linha de água dos oceanos subirá até 2100 o suficiente para deslocar mais de 200 milhões de pessoas.
Segundo o diretor do Centro de Ciência do Sistema Terrestre da Universidade Estadual da Pensilvânia, Michael Mann, “os EUA não estão prontos para um aumento do nível do mar em um metro. Basta ver o que aconteceu após os furacões Sandy e Katrina “.
A catástrofe que se avizinha pode ser medida: as calotas da Groenlândia e da Antártica perderam mais de 400 bilhões de toneladas de massa de 2005 a 2015, o que corresponde a um aumento do nível do mar de 1,2 milímetro ao ano. Geleiras em montanhas perderam cerca de 280 bilhões de toneladas de gelo anualmente no mesmo período, elevando o nível do mar 0,77 mm a cada ano.
Liberação de carbono
Sem cortes profundos nas emissões provocadas pelo homem, pelo menos 30% do permafrost da superfície do hemisfério norte poderá derreter até o fim do século, liberando bilhões de toneladas de carbono e acelerando ainda mais o aquecimento global.
Desde 1970, os oceanos absorvem 25% do dióxido de carbono emitido e mais de 90% do calor adicional gerado pelas emissões de gases de efeito estufa. A acidificação provocada pela poluição corrompe a cadeia alimentar marinha, e o aquecimento da água está criando vastas zonas mortas sem oxigênio. “Nos últimos 100 anos, 35% da elevação do nível do mar no mundo ocorreu devido ao derretimento das geleiras”, disse à AFP o professor de climatologia do Instituto de Pesquisa Potsdam Anders Levermann.
As geleiras do Himalaia são fontes de água cruciais para 250 milhões de pessoas e alimentam os rios dos quais mais de 1,6 bilhão de pessoas dependem para alimentação, energia e renda. Os habitantes de La Paz, capital da Bolívia, obtêm pelo menos 30% de sua água das geleiras dos Andes durante os meses secos do inverno. Mas em 2016, “quase cem bairros ficaram sem água por mais de um mês”, revelou o diretor do Laboratório de Física Atmosférica na Universidade de San Andrés, Marcos Andrade.
Recomendações virão tarde demais
As recomendações do relatório serão divulgadas em 25 de setembro, dois dias depois de finda a cúpula convocada pela ONU para extrair dos líderes mundiais compromissos no enfrentamento da crise climática. China, Estados Unidos, União Europeia e Índia, responsáveis por 60% das emissões de gases de combustíveis fósseis, parecem não estar muito preocupados.
Enquanto os EUA abandonaram o Acordo de Paris, Índia, China e União Europeia estão vendo ressurgir o uso do carvão e o relaxamento das regulamentações de poluição do ar.
O relatório do IFCC foi redigido com a ajuda de 107 especialistas de 52 países. Contém sete mil referências, considerando-se 28.275 comentários de revisão feitos por outros especialistas e governos. A avaliação científica de 900 páginas é o quarto tomo da ONU em menos de um ano.
Fonte: Portal Tratamento de Água