Os ventiladores de teto e os aparelhos de ar condicionado conseguiram apenas aliviar os efeitos da sufocante onda de calor que atingiu o sul da Califórnia recentemente.
Foram dias em que a maioria dos moradores de Los Angeles desejaram morar em um dos bairros que há algumas semanas testa uma nova ideia para combater as altas temperaturas.
Trata-se do CoolSeal (“selo fresco”, em tradução livre), uma espécie de pintura de cor cinza claro que “refresca” o asfalto e que foi criada para combater o chamado fenômeno da “ilha de calor” urbana.
Concentração de calor
Não é de se estranhar que o projeto piloto para colocar à prova a eficácia do CoolSeal tenha começado na cidade de Los Angeles.
Cercada pelo deserto e coberta por milhares de quilômetros de asfalto, a maior cidade da Califórnia é um exemplo do efeito da ilha de calor, um fenômeno térmico que ocorre nas regiões urbanas por causa das bolsas de altas temperaturas, um efeito da combinação de cimento, asfalto, telhados escuros e escassez de árvores.
O prefeito da cidade, o democrata Eric Garcetti, quer reduzir a temperatura média em dois graus Celsius nos próximos 20 anos, segundo o jornal “Los Angeles Times”.
A aplicação de CoolSeal pode ser uma das soluções.
No momento, os resultados são animadores, disse à imprensa Greg Spotts, diretor-assistente do departamento de manutenção de ruas da prefeitura de Los Angeles.
“Vimos que, em média, uma zona pintada com CoolSeal é entre 8 e 9 graus mais fresca que o asfalto escuro no mesmo estacionamento”, disse Spotts.
Substituto de outros sistemas refrescantes?
Por enquanto, o experimento foi aplicado em dois bairros de Los Angeles e está em sua fase inicial.
Mas as autoridades têm esperança de poder estendê-lo a outros bairros e até mesmo outras cidades do Estado e do país.
Alguns pesquisadores têm a mesma esperança.
“Já temos uma tecnologia eficaz para nos protegermos das ondas de calor, chama-se ar condicionado”, diz em tom de brincadeira Alan Barreca, professor de ciência do meio ambiente da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA).
“Mas há algumas razões pelas quais o ar condicionado pode não ser uma boa solução a longo prazo”, afirma.
“Por um lado, os aparelhos de ar condicionado emitem hidroclorofluorcarbonos (fluidos de refrigeração conhecidos por sua sigla HCFC) e consomem energia, provocando o aumento dos gases do efeito estufa”.
“Por outro, nem todo mundo tem condições de ter ar condicionado. Isso me preocupa de um ponto de vista moral. O asfalto fresco beneficiará a todos, independentemente da fonte de renda”, disse Barreca à BBC Mundo.
Tecnologia de defesa
O departamento de manutenção de ruas da prefeitura de Los Angeles está tocando o projeto piloto junto com a empresa GuardTop, fabricante de cobertura para asfalto com base na Califórnia.
A empresa criou a tinta para a indústria de defesa dos Estados Unidos, disse Jeff Luzar, vice-presidente de vendas da GuardTop.
Luzar disse que as autoridades queriam reduzir a temperatura das pistas de decolagem para impedir que satélites espiões usassem raios infravermelhos para localizar aviões.
O produto aplicado nas ruas de Los Angeles é parecido com o original, mas foi aperfeiçoado para refletir ainda mais o sol.
Custos x benefícios
O representante do departamento de manutenção de ruas da prefeitura de Los Angeles reconhece que ainda é preciso avaliar os custos de elaboração e instalação do material, assim como os efeitos ambientais do processo como um todo para ver se eles compensam os benefícios.
O CoolSeal custa US$ 40 mil por milha (1,6 km) e dura sete anos.
Para Alan Barreca, não há dúvidas.
“Há evidências de que o calor extremo pode ser mortal”, diz o professor da UCLA.
“Se 160 km de pavimento podem evitar a morte de uma única pessoa, vale a pena instalá-lo. E isso se só focarmos em salvar vidas. O calor extremo tem um efeito também nas hospitalizações, na saúde infantil e até na fertilidade.”
“Levando em conta todos esses fatores, acredito que os benefícios do asfalto fresco superam os custos. Mas precisamos esperar para ver se isso é confirmado”, reconhece Barreca.
Greg Spotts concordou que ainda são necessários mais dados e afirmou que seu departamento vai monitorar e estudar as ruas onde o CoolSeal foi aplicado durante todo o outono boreal.
Fonte: G1 (goo.gl/3eHfN5)