O serviço que polinizadores como abelhas, borboletas e morcegos prestam para os cultivos agrícolas foi avaliado em R$ 43 bilhões no Brasil no ano passado. Cerca de 80% desse montante envolve apenas quatro cultivos – soja, café, laranja e maçã. O valor econômico dos polinizadores foi estimado para 67 plantas cultivadas ou silvestres relacionadas à produção de alimentos no país.
Os dados fazem parte de um estudo realizado durante um ano e meio ano por 12 pesquisadores da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES) e cientistas da Rede Brasileira de Interações Planta-Polinizador (REBIPP). O trabalho foi lançado em evento na Fapesp, em São Paulo.
Batizado de “Polinização, Polinizadores e Produção de Alimentos”, o estudo relaciona a dependência e as relações entre a agricultura e os serviços de polinizadores. O relatório avaliou mais de 400 publicações científicas sobre a polinização e a produção de alimentos no Brasil. O uso de agrotóxicos pode matar ou repelir polinizadores, além de causar desorientação de voo ou uma diminuição do número de indivíduos na procriação.
O estudo é lançado em um momento em que há intenso debate no país sobre liberação do uso de agrotóxicos. “Os polinizadores são de vital importância não só para nossas exportações como para produção de alimentos essenciais para a qualidade de vida dos brasileiros”, diz o professor Carlos Joly, da Universidade Estadual de Campinas e coordenador do BPBES. “O país deve avaliar com cautela a utilização de substâncias que colocam em risco o enorme benefício que esses animais nos trazem”, continua, em nota distribuída à imprensa.
Há uma grande diversidade de animais com potencial para atuar como polinizadores. O estudo levantou 609 visitantes de plantas cultivadas ou silvestres e, destes, 41% podem atuar como polinizadores. De 289 plantas cultivadas ou silvestres utilizadas direta ou indiretamente na produção de alimentos no país, há conhecimento sobre polinização para 191 delas.
O estudo relaciona as ameaças aos serviços prestados aos ecossistemas pelos polinizadores – perda de habitat, mudança do clima, poluição, agrotóxicos, espécies invasoras e doenças. A mudança do clima, por exemplo, pode modificar o padrão de onde as espécies se distribuem, a época da floração e o comportamento dos polinizadores. Em algumas culturas, como a berinjela, o polinizador específico contribuiu com um aumento de 180 gramas, aproximadamente, por unidade no produto final.
As abelhas predominam como polinizadores, seguidas por besouros, borboletas, aves, vespas, moscas, morcegos e percevejos. Os pesquisadores afirmam que a manutenção do ambiente natural em áreas próximas do cultivo é a principal forma de garantir a diversidade de polinizadores.
“Infelizmente, o Brasil atualmente caminha em sentido contrário ao da comunidade internacional ao persistir no uso de agrotóxicos já banidos na maioria dos outros países”, afirma, na nota à imprensa, Braulio Dias, professor da UnB e ex-secretário executivo da Convenção da ONU sobre Diversidade Biológica. Dias considera que transferir a responsabilidade de aprovação de agrotóxicos exclusivamente para o Ministério da Agricultura, conforme proposto, não vai beneficiar o meio ambiente, os polinizadores ou a saúde de agricultores e consumidores.
Fonte: Valor Econômico (goo.gl/DibTk4)