Qual é o legado que queremos deixar para os nossos jovens? O que desejamos construir para fazer do mundo um lugar mais justo e melhor para se viver? Essas perguntas, que fazemos como pais e cidadãos, também estão ecoando dentro das companhias. A preocupação com as pessoas e o meio ambiente remete à reflexão sobre como as empresas realmente podem gerar valor, não somente para elas mesmas, mas também para a sociedade, o meio ambiente e o país.
Estamos diante de um novo modelo de pensamento, no qual temos a inovação socioambiental como um pilar estratégico e fundamental para as empresas. É uma ruptura na maneira de fazer negócios por descontinuar soluções antigas e fornecer respostas criativas a problemas econômicos, sociais e ambientais com a adoção de estratégias mais inclusivas e inovadoras. É também muito mais do que uma mudança corporativa – é um chamado para um novo jeito de agir no mundo. Quem não estiver atento e pronto para assumir essa responsabilidade, certamente ficará para trás.
De meros espectadores, clientes e colaboradores estão cada vez mais questionadores e, sobretudo, mais rigorosos em relação às atitudes das empresas no que se refere à ética, à conservação do meio ambiente e ao desenvolvimento dos indivíduos e da sociedade como um todo. Essa nova dimensão transcende também para o mercado de capitais, com investidores mais seletivos e em busca de geração de valor ambiental e social.
Por isso, pode-se dizer que as estratégias de ontem já não atendem mais às necessidades do mundo atual. Existe um movimento da sociedade para uma evolução, que inclui a inovação socioambiental. Esse movimento oferece às empresas uma abordagem ainda mais poderosa ao impulsionar o motor de seus negócios, direcionando sua força e core business para a promoção de uma real transformação. Sinergias e parcerias passam a ser a base do novo ambiente empresarial, motivado pelo pensamento inovador e por mudanças que promovem ganhos compartilhados. Nesta perspectiva, dados, inteligência artificial e outras tecnologias cumprem uma função essencial de tangibilizar e orientar os avanços.
A tendência de incorporar questões sociais e ambientais à estratégia empresarial já começa a ser uma realidade e, muito em breve, será a única maneira de trabalhar. O valor socioambiental gerado é capaz de criar empregos e receitas reversas, tornando-se pauta da mesa de negociações. Não falamos apenas de novos produtos. São novos mercados e diferentes impactos que, até então, eram inimagináveis.
O conceito de inovação socioambiental tem a força de transformar o que antes era uma proposta de assistencialismo e de mero cumprimento de obrigações legais em uma verdadeira chance de geração de valor, tanto para as companhias quanto para a sociedade. Esse modelo é capaz de impulsionar o mercado empresarial para agir de uma maneira diferente em relação aos problemas sociais, promovendo uma mudança muito mais significativa.
Esse movimento positivo pode se valer da atividade principal de uma organização para aumentar o acesso a produtos ou serviços, para reduzir custos, criar oportunidades econômicas para pessoas carentes ou, até mesmo, motivar novas políticas públicas que ajudem a sociedade na solução de seus desafios. A transformação social pode ser ainda mais duradoura e escalável se estiver diretamente alinhada com os objetivos empresariais e se envolver parcerias público-privadas (PPP) para desenvolvimento e avanço conjunto das companhias, do governo e da sociedade.
Estou certo de que a inovação socioambiental cria valor a longo prazo e desenvolve novas habilidades de inovação, fundamentais para o sucesso no novo ambiente de concorrência global no qual estamos inseridos. A medição dos impactos alcançados motiva as empresas a fazerem mais, e logo. O contato com resultados concretos incentiva as pessoas a “fazerem o bem” e a contribuírem ativamente para o avanço da sociedade e também do ambiente no qual estamos inseridos.
Um exemplo de transformação de atitude é a questão do plástico, que representa o maior desafio ambiental do século XXI, segundo ONU. Até 2050, teremos mais plásticos nos oceanos do que peixes, uma vez que esse material pode levar 400 anos para se decompor, causando, assim, efeitos devastadores para o ecossistema. A União Europeia já proíbe o uso de copos, cotonetes e canudos de plástico, saindo à frente em um interessante exemplo que está sendo seguido por mais de dez países. No Brasil, a preocupação já existe e será intensificada na cidade de São Paulo a partir do projeto de lei apresentado agora em junho para disciplinar – e futuramente proibir- a utilização de canudos plásticos no consumo de bebidas oferecidas pelo comércio. Com isso, novas oportunidades surgirão, a exemplo da produção de canudos e copos biodegradáveis em papel.
Com tantas mudanças no mundo, as empresas brasileiras precisam mergulhar ainda mais nesse formato de inovação para desenvolver novas visões, criar receitas com subprodutos e explorar melhor as oportunidades da cadeia comercial que ajudem no desenvolvimento de novas alternativas empresariais. Esse caminho é fundamental para evolução dos negócios e também possibilitar a construção de fortes vínculos emocionais com clientes, que cada vez mais irão cobrar das empresas atitudes socioambientais que possam ser classificadas como notáveis.
O Brasil tem todas as condições de migrar para um cenário de alinhamento entre crescimento econômico, resultados financeiros e impacto socioambiental positivo ao gerar oportunidades de valor compartilhado – a exemplo do que vem acontecendo em outros países.
O momento de mudar é agora. É hora de arregaçarmos as mangas e juntos construirmos um futuro melhor: mais justo, inclusivo e promissor. Afinal, a vida que a gente quer depende do que a gente faz – e de como a gente faz.
Fonte: Valor Econômico