De uns tempos para cá, uma marca, seja ela pequena ou grande, precisa pensar muito além da estética da coleção. Ter processos sustentáveis de produção é fundamental para se estabelecer no mercado e conquistar clientes. O consumo consciente virou item de desejo, e grifes que valorizam e respeitam quem faz, usam matérias-primas ecológicas, desenvolvem roupas para durar e apresentam um processo transparente saem na frente.
O Santander valoriza empreendedores que levam esses conceitos para suas marcas e oferece financiamento para toda a cadeia, do produtor do algodão (com as linhas de agro), até a empreendedora pessoa física (Prospera) e a formal (PME) e grandes indústrias (Corporate e GCB).
— Não apenas na moda, mas todas as indústrias, no Brasil e no mundo, precisam passar por uma transformação em direção a uma atuação mais sustentável. Estima-se que o algodão seja a fibra natural mais usada no mundo para a confecção de roupas e está presente em 35% das peças produzidas. Ou seja, o uso de algodão sustentável na indústria da moda poderia ter um grande impacto. O algodão é biodegradável e não solta microplástico durante seu consumo, ao contrário de parte dos tecidos sintéticos. Certificações que atestam a origem e procedência das matérias-primas estão cada vez mais em destaque no mercado, inclusive na moda. O upcycling, ou seja, a reutilização criativa de subprodutos, resíduos e produtos que seriam descartados, é essencial para mitigar a pegada ecológica da cadeia da moda — destaca Carolina Learth, Head de Sustentabilidade do Santander Brasil.
Uma marca que vem investindo em iniciativas sustentáveis é a Farm. Nos últimos cinco anos, a brand carioca abraçou o compromisso e vem compartilhando passos importantes internamente e com seu público.
— Fizemos a escolha de ter a sustentabilidade como fio condutor de todas as nossas ações. Mergulhamos profundamente nesse trabalho e já vemos os impactos: subimos de posição no Índice de Transparência da Moda, estamos trabalhando para ter a certificação B e topamos muitos desafios, como o de plantar mil árvores por dia. Cada uma dessas ações, somadas ao fato de que conseguimos compensar a emissão de carbono de toda a nossa operação, nos dão a certeza de que cuidar do meio-ambiente e das pessoas que movem o negócio serão os direcionais dos próximos anos — avalia Diego Francisco, Head de Marketing da marca.
O projeto "1.000 árvores por dia, todos os dias" está ativo há pouco mais de um ano e já conta com mais de 420 mil árvores plantadas em biomas como Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga. Com parceiros como IDESAM, SOS Mata Atlântica, Anjos do Sertão e outros, a Farm pretende chegar à marca de 500 mil árvores plantadas até o fim deste ano. Ao realizar o plantio e colaborar com o reflorestamento, a grife neutraliza toda a emissão de carbono da produção de suas coleções. Desde o segundo semestre de 2020, ela conquistou o selo carbono neutro em suas coleções, e, agora, lançou a Farm na Nuvem, sua primeira loja carbono neutro. Trata-se de um espaço virtual 360 que simula a experiência de visitar uma loja física, onde a cliente pode conhecer mais sobre os projetos de marca, as coleções, e, claro, comprar as peças que desejar.
Upcycling com grandes parceiros
Menor, mas com conceitos muito bem definidos desde o seu lançamento, em 2016, a Oficina Muda chegou com o propósito de promover a economia circular no mundo da moda por meio da gestão de produtos fora do padrão de qualidade ou obsoletos e que poderiam vir a ser descartados. Com marcas parceiras como a própria Farm, Cantão, Animale, Dress to, Maria Filó, Agilità, Redley, Loja Três, A Teen, Love Dress, CCM e Sardina, todo o processo se baseia na aplicação de técnicas de upcycling com o objetivo de reduzir os danos ambientais do setor e impactar positivamente o comportamento tanto das marcas como dos consumidores. Este ano, foram cerca de 12 mil peças reeditadas e, desde 2016, já são 250 mil (algo em torno de 60 toneladas de tecidos que deixaram de ir para lixões).
— Usamos o upcycling não somente como processo criativo e produtivo, mas principalmente com o objetivo de recuperar as peças e pelo menos parte do seu valor comercial original. O upcycling é o método de transformar materiais que seriam descartados, agregando valor e sentido — diz Larissa Greven, sócia fundadora.
Depois que a peça é ressignificada e ganha vida nova, ela é precificada em uma média de 50% mais baratas do as originais e retornam para as lojas. Com três lojas físicas (Laranjeiras, Copacabana e Tijuca), a multimarcas tem um ponto fixo também no terceiro andar da Casa Farm, em Ipanema. O e-commerce, lançado em maio deste ano, já representa aproximadamente 20% das vendas. Para 2022, a meta é ter nova base de marcas parceiras com propósitos, iniciar as operações em São Paulo ainda no primeiro semestre e abrir mais duas lojas novas no Rio de Janeiro.
O sucesso de marcas engajadas é cada vez maior. Os consumidores estão exigentes e o desejo por marcas com posicionamentos responsáveis e sustentáveis aumenta a passos largos.
— Há ainda um outro aspecto: esse público também se questiona em relação à necessidade da compra de determinado item. Compras em brechós e serviços de vestuário compartilhado, por exemplo, ganham força nesse contexto. Esses consumidores deixam de considerar apenas o visual das peças para incluir em seu processo de escolha a forma como toda a cadeia produtiva é desenvolvida, desde a obtenção das matérias-primas até as relações trabalhistas — percebe Carolina Learth.
De fato, não basta mais ser só uma roupa bonita. Engajamento em causas de preservação e de bem-estar social são tão relevantes quanto a peça em si.
Fonte: O Globo – Acessado em 12/01/2022