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Foto: Divulgação
O Brasil é o quarto maior produtor de lixo plástico no mundo, reciclando apenas 1,28% das 11,3 milhões de toneladas que produz anualmente, segundo dados da ONG ambiental Fundo Mundial para a Natureza (WWF ). O material é a principal escolha entre as embalagens disponíveis para entrega de comida a domicílio. Considerando que existem atualmente 15,2 milhões de pessoas utilizando serviços online de refeições, grande parte da população acaba contribuindo para a alta produção de resíduos no país.
No ano de 2018 um dos principais aplicativos de delivery do país, o iFood, registrou 8,5 milhões de entregas no mês de julho, enquanto no mesmo período de 2019 o número saltou para 20 milhões. O setor tem modificado tanto a forma de fazermos negócios que os chamados ‘restaurantes virtuais’ são a grande aposta da Uber Eats para o futuro – e vários outros aplicativos estão entrando no mercado. Além disso, a quarentena instalada no Brasil aumentou a demanda desse tipo de serviço, já que restaurantes só conseguem vender desta forma.
Este crescente número de entregas acarreta também um aumento nas embalagens utilizadas no delivery. Esses materiais – que são utilizados somente uma vez e jogados no lixo – eram a dor de Júlia Berlingeri, 26, que a partir da ideia do Re.pote, buscou a Poli Júnior – empresa júnior de Engenharia da USP – para desenvolver a solução a partir da ideia dela. “A proposta do Re.pote é ser um recipiente que transforme a forma de realizar o delivery ao reduzir os resíduos gerados pelos serviços de entregas de alimentos de uma maneira inteligente, prática e sustentável”, pontua a engenheira de produção.
Para atender a este desafio, a Poli Júnior realizou pesquisas para entender qual seria o material ideal para a produção do pote, já que ele deveria ser resistente a variações de temperatura, garantindo a reusabilidade do recipiente na casa do consumidor, sendo no freezer ou no microondas, por exemplo. Outro ponto importante é que o produto fosse constituído de material reciclado. Entretanto, seria um grande desafio, considerando que tal substância deveria ter contato direto com alimentos e estar dentro das normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
Outro interesse da empresa e da cliente é que o produto fosse constituído de material reciclado. Entretanto, seria um grande desafio, considerando que tal substância deveria ter contato direto com alimentos e estar dentro das normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). A primeira solução encontrada foi o ‘PET PCR grau alimentício’, mas logo percebeu-se que o material apresentava um alto custo e não era encontrado tão facilmente no mercado, tornando a opção inviável por questões práticas.
A primeira solução encontrada foi o ‘PET PCR grau alimentício’, mas logo os parceiros de negócio perceberam que o material não apresentava as propriedades térmicas necessárias, tornando a opção inviável por questões práticas. Após pesquisas mais profundas, chegou-se a conclusão de que a solução ideal seria fabricar o recipiente por injeção plástica com duas camadas. “A camada externa seria feita de polipropileno reciclado, material barato que atende a todos os requisitos desejados, além de ser facilmente encontrado no mercado. Já a parte interna – que estaria em contato com os alimentos – contaria com uma fina camada de polipropileno virgem, que apesar de não ser reciclado, não faz com que o produto perca sua marca ecológica”, explica Lívia Leite de Almeida, diretora de gestão de pessoas.
Assim, a equipe da empresa júnior conseguiu identificar materiais baratos e facilmente encontrados no mercado, que corresponderam com todas as expectativas inicialmente estabelecidas por Júlia. E, não para por aí. A Poli Júnior também entregou uma pesquisa de mercado para verificar o quanto o produto e o modelo de negócio seriam aceitos entre os restaurantes e clientes de delivery. “As respostas do estudo me surpreenderam e serviram de motivação porque pude enxergar que 70% dos estabelecimentos entrevistados estavam muito interessados no produto e dispostos a pagar um valor maior por ele”, ressalta a engenheira de produção.
Além disso, a pesquisa aplicada pela empresa júnior constatou que grande parte dos restaurantes entrevistados também estavam descontentes com a quantidade de resíduos que suas entregas estavam gerando. Com isso, a equipe elaborou três modelos de potes diferentes e – com ajuda da impressora 3D – conseguiram entregar para a cliente iniciar o seu projeto, que está em fase de implementação. Atualmente, além dos R$ 10.000 que a engenheira investiu no negócio próprio, é preciso um investimento mínimo de R$ 15.000 para a comercialização efetiva do Re.pote.
Segundo a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (ABRASEL), o número de pedidos via aplicativos movimenta em torno de R$ 11 bilhões a cada 12 meses no país. Ou seja, um setor em grande crescente que é capaz de se tornar sustentável se visto com olhos de jovens como a Júlia e dos membros da Poli Júnior.
Fonte: The Greenest Post