As vantagens econômicas e ambientais de criar gado nos campos nativos do Bioma Pampa têm despertado interesse cada vez maior entre pecuaristas gaúchos. Em quatro anos, desde o início das certificações, 140 propriedades gaúchas passaram a integrar a Alianza del Pastizal, programa de fomento à pecuária sustentável feita com base nas pastagens naturais do Bioma Pampa, que está presente no Rio Grande do Sul, Uruguai, Argentina e Paraguai. Ao mesmo tempo em que cresce o número de produtores simpáticos à ideia da pecuária sustentável, os itens gerados nestes campos – carne, leite, couro – chamam atenção de empresas e consumidores engajados ambientalmente.
Durante a Expointer, em um evento da Alianza Del Pastizal, foi apresentado um projeto de parceria, em fase de estudos, entre o programa e a empresa franco-brasileira Vert, fabricante de tênis, com matriz em Paris, que está de olho no couro sustentável produzido no Pampa. O diretor de Marketing da Vert, no Brasil, Claudio Wochner, diz que 140 peças de couro estão sendo testadas (foto acima) e poderão entrar na composição dos tênis que são vendidos em mais de 30 países.
“Procuramos o programa do Pastizal por uma questão de afinidade de interesse em preservar a natureza, porque os consumidores estão muito atentos a isso”, conta Wochner.
Segundo ele, a empresa já trabalha com algodão orgânico do Nordeste, borracha nativa amazônica e materiais reciclados. O couro usado até o momento é proveniente de áreas que não foram desmatadas. “Pagamos preços diferenciados por estes insumos para incentivar que as pessoas continuem com a cultura de preservação, sem precisar agredir a natureza”. Ele explica que ainda está sendo estudada a forma de pagamento direto aos pecuaristas pelo couro, no caso de a parceria vingar. Atualmente, a empresa fabrica 400 mil pares de tênis ao ano. A meta é chegar a 1 milhão de pares em 2020. Com a pele de uma cabeça de gado é possível confeccionar 25 pares de tênis.
Se a parceria se concretizar, o couro do Bioma Pampa chegará a várias partes do mundo. Atualmente, a carne tem como destino apenas os mercados gaúcho e paulista, por meio da rede de supermercados Carrefour. O coordenador nacional da Alianza del Pastizal no Brasil, agrônomo Marcelo Fett Pinto, afirma que é crescente o interesse pela pecuária sustentável no Rio Grande do Sul.
“Recebemos solicitações semanalmente de produtores que querem ingressar no programa”, revela. Para ele, existem dois apelos fortes: econômico, já que o frigorífico paga bonificação pela carne da Alianza, e filosófico, porque os pecuaristas acham simpática a iniciativa. Hoje, os abates estão concentrados na planta da Marfrig em Bagé. Segundo Fett, em média, 600 cabeças são abatidas mensalmente no Estado. Da indústria, a carne sai com um selo da Alianza del Pastizal para o mercado consumidor.
O coordenador nacional explica que, para integrar o programa, a propriedade tem que preservar pelo menos 50% da área total de produção com pastagens naturais e não possuir confinamento de gado. A veterinária que trabalha nas Câmaras Setoriais e Temáticas da Secretaria da Agricultura do Estado, Carla Menger Lehugeur, lembra que em 2014, por decreto estadual, foi criado o índice de conservação dos campos naturais, que serve como uma ferramenta oficial para avaliar o estado de preservação das pastagens do bioma.
Para ela, a pecuária nos campos nativos é a forma de exploração econômica mais sustentável que existe, “porque permite ao produtor ganhar dinheiro garantindo a preservação do meio ambiente”. Segundo a veterinária, a carne dos animais criados a campo nativo tem propriedades diferenciadas por conta da dieta e não carrega a imagem negativa da pecuária associada à agressão à natureza, como os desmatamentos.
A Alianza del Pastizal está sob o guarda-chuva de uma organização de preservação de aves e da natureza como um todo, chamada BirdLife Internacional, que tem sócios em 120 países.
Fonte: Correio do Povo (goo.gl/sb67TU)