O Pampa, bioma característico do Rio Grande do Sul, vem apresentando um processo contínuo de supressão de vegetação. A mais recente edição do estudo Indicadores de Desenvolvimento Sustentável (IDS), lançado pelo IBGE, aponta que 54,2% da área original no Estado não existe mais. O dado utilizado pelo instituto, porém, é de 2009. O professor de Ecologia da Ufrgs Valério Pillar calcula que mais de 60% dos 178 mil quilômetros quadrados de vegetação tenha sofrido modificações.
“Não há dados concretos de 2009 para cá, mas a expansão da supressão da área tem sido acelerada. A estimativa é de que hoje remanesça menos de 40% da vegetação campestre”, aponta Pillar.
O especialista aponta que a expansão do plantio de soja e arroz e da silvicultura, com o cultivo de eucalipto e pinus, é a principal responsável pela alteração da paisagem típica gaúcha, também existente na Argentina e no Uruguai. Desta forma, muitas áreas antes voltadas à pecuária tiveram nova destinação.
O IBGE ainda detecta que quase 50 espécies da fauna e cerca de 20 espécies de flora estão extintas ou ameaçadas no Pampa. “Tem havido pressão da agricultura. Como consequência da supressão do Pampa surgem problemas de erosão acelerada”, destaca Denise Kronemberg, gerente de estudos ambientais do instituto.
O pesquisador da Ufrgs Eduardo Vélez, estudioso do Pampa, constata que a supressão ocorre irregularmente em muitos casos. A legislação determina que a alteração desse tipo de área necessita de autorização dos órgãos competentes, mas a falta de fiscalização motiva o descumprimento da norma.
Por outro lado, Valério Pillar acredita que o Cadastro Rural Ambiental (CAR) poderá ajudar na fiscalização, já que dará um panorama da atividade nas propriedades e permitirá identificar eventual desmatamento.
Vélez define a situação do bioma como “alarmante.” O nível de supressão do Pampa só é superado pelo da Mata Atlântica. “A supressão do Pampa causa sequestro de carbono, aumenta a possibilidade de enchentes”, explica. As consequências, além de ambientais, podem ser econômicas, na percepção de Vélez. “Nessa vegetação, é possível criar gado. Se, no futuro, não for mais tão rentável produzir soja, o potencial de produção de carne de alta qualidade estará perdido”, destaca.
Fonte: Jornal do Comércio (http://goo.gl/asl0eU)