A sustentabilidade vem ganhando cada vez mais espaço na agenda das empresas, refletindo a tendência de aumento no consumo consciente e das discussões ambientais pela sociedade. Mas, principalmente, porque se tornou uma vantagem competitiva e influencia na lucratividade. Não faz mais sentido voltar atrás nesse movimento, independentemente da política vigente. Esta foi a principal mensagem passada pelos participantes do Fórum Sustentabilidade, promovido pelo Estado e patrocinado pela Ambev na última quarta-feira.
No painel “Melhores Práticas para os Desafios Socioambientais”, Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), apontou que a discussão acontece num momento oportuno. Para ela, o Acordo de Paris – tratado assinado por 195 países para conter o aquecimento do planeta – e os objetivos de desenvolvimento sustentável, ambos estabelecidos em 2015, fizeram com que a sociedade passasse da sensibilização para a ação.
“Muitas empresas buscam as melhores práticas, compartilham experiências e, em seu portfólio, a área de sustentabilidade cresce mais do que as áreas tradicionais”, observou. Para ela, o Brasil tem vantagens competitivas, decorrentes dos grandes ativos da biodiversidade.
“O desenvolvimento sustentável entrou definitivamente na conta da competitividade internacional. O setor privado se organizou e se comprometeu com a sustentabilidade, mas, para ampliar sua participação, é preciso colocar os competidores do mesmo lado”, disse.
Ela ressaltou que a competitividade se impõe quando se extrapolam as fronteiras das empresas, da comunidade e do governo, e que o Brasil, signatário do Acordo de Paris, pode ter vantagem ainda maior na nova geopolítica mundial. “Quando os Estados Unidos disseram que sairiam do acordo, suas empresas se manifestaram de imediato, deixando claro que para elas era mais interessante cumprir o previsto no acordo. Ou seja, sustentabilidade significa também competitividade e lucro.”
A opinião é compartilhada pelo diretor do Pacto Global para Sustentabilidade da ONU, Carlo Pereira: “As mudanças climáticas estão atreladas a questões energéticas, hídricas e sociais. Isso diz respeito a países, mas também a empresas. A agenda de desenvolvimento sustentável é a principal ‘lista de tarefas’ da humanidade, com desafios integrados, interligados e indivisíveis”.
Para ele, não se pode pensar a sustentabilidade de maneira isolada nem deixar pequenas empresas alheias. “Ao contrário do que acontece no setor público, especificamente com governos que tenham restrições ao multilateralismo, o setor privado é interligado globalmente. Por isso, as empresas entendem que ser sustentável é uma vantagem competitiva”.
Embora o Brasil esteja à frente em termos de governança no setor privado, o número de empresas sustentáveis ainda é pequeno, ponderou Pereira. “A sustentabilidade na cadeia produtiva deve integrar as grandes, mas também as pequenas e médias empresas. Temos desafios transponíveis, desde que mais companhias entendam que isso é um diferencial de mercado.”
Rodrigo Figueiredo, vice-presidente de Sustentabilidade e Suprimentos da Ambev, defendeu que é preciso avançar. “Devemos partir da conscientização para as ações, em parceria entre empresas, governos e meios de comunicação, para garantir relevância ao tema.”
Mercado
Para os especialistas, mesmo num eventual descumprimento pelo Brasil do Acordo de Paris, tema aventado na campanha eleitoral pelo candidato Jair Bolsonaro (PSL), as empresas já entenderam que aquelas que cumprirem metas de sustentabilidade terão melhores condições de competir no mercado. “Qualquer país que for na contramão do Acordo de Paris vai perder competitividade”, disse Figueiredo. Para ele, o desafio agora é tornar a sustentabilidade algo grandioso, pois seu impacto acontece em toda a cadeia. “Se uma grande empresa consegue ser exemplo, seus fornecedores vão responder a isso, mudando seu foco para negócios sustentáveis.”
Poder público
Gil Scatena, coordenador de Planejamento Ambiental da Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo, defendeu que é preciso que a sustentabilidade e as questões ambientais integrem o setor público como ocorreu com o privado, que se fortaleceu com base no conhecimento acumulado nos últimos anos e nas responsabilidades sociais assumidas.
“As políticas devem ser mais integradoras, do ponto de vista do poder público, para que a sustentabilidade gere negócios sociais e investimentos do setor privado, pois agrega valor, produz inovação, gera emprego e renda”, afirmou. Ele defende ser essencial a parceria entre Estado, empresas e sociedade civil. “Devemos pensar a sustentabilidade como um ponto de sinergia, um desafio que precisa ser vencido em conjunto.”
Scatena citou como exemplo a questão dos aterros sanitários, lembrando que o gargalo econômico dificulta sua gestão e aprimoramento. Para ele, se não houver um processo econômico virtuoso, dificilmente haverá dinheiro para a gestão na ponta. “É preciso buscar soluções regionalizadas. Não dá para cada município ter seu próprio aterro. Isso é uma agenda urgente para o setor público, mas também para o privado, pois saneamento e tratamento de resíduos são negócios.”
Avaliação
Eventual saída do Brasil do tratado de combate ao aquecimento global pode representar uma perda de oportunidades.
Fonte: Terra (goo.gl/isrSzM)