A conexão direta entre o mercado financeiro e a sustentabilidade nunca foi tão presente. Estamos vivendo um momento em que a sustentabilidade ganha papel de protagonismo quanto aos decisores de aplicações e investimentos. Tudo isso tem ocorrido, principalmente pela necessidade de financiar a transição para uma economia mais verde e de baixo carbono, que precisa ocorrer de forma rápida para evitar que impactos críticos ocorram à economia e à sociedade por um processo mais abrupto (se realizado de forma tardia).
Nesse contexto, os atores do mercado financeiro, sejam eles os investidores ou intermediadores, tem encontrado dificuldades na comprovação clara de que os aportes realizados em investimentos considerados “verdes” realmente tenham o impacto e direcionamento desejados. Com essa insegurança, as condições de obtenção de crédito perdem atratividade e ainda podem incorrer em casos de Greenwashing (termo utilizado para ações intituladas como sustentáveis, mas que na verdade não são exatamente conforme o discurso).
O que é a Taxonomia Verde?
Visando reduzir esses riscos e de fato catalogar as atividades econômicas empresariais de forma mais assertiva, foram criadas taxonomias verdes. Essas taxonomias nada mais são do que uma categorização de ranqueamento que visam trazer mais clareza e facilidade nas decisões financeiras.
Tais taxonomias têm sido desenvolvidas em todo o mundo, justamente pelo constante desafio de alocar recursos em projetos alinhados a critérios claros de classificação, fomentar a transição da economia e não apenas ficar à mercê dos discursos auto declaratórios.
Tipos de Taxonomias Verdes: Voluntárias ou Mandatórias
A taxonomia verde pode ser desenvolvida a partir de iniciativas voluntárias ou mandatórias. Nas voluntárias, elas podem ser desenvolvidas a partir do interesse de atender demandas específicas de algum mercado, estabelecer ranking empresarial baseado em algum ativo financeiro específico ou atingir uma determinada classe de investimentos. Temos o GBP (Green bonds principles) e o SBP (Social bonds principles) e no caso de taxonomias desenvolvidas por OSC´s (Organizações da sociedade civil) as elaboradas pela CBI (Climate bonds initiative).
Nas taxonomias mandatórias, temos por exemplo, as determinações importantes e necessárias para a realização de um ranking baseado em objetivos governamentais, como nos casos de países e blocos. No caso da União Europeia, a taxonomia foi desenvolvida baseada na regionalização das atividades econômicas, em outros países em compensação como China e Holanda, o objetivo principal é abordar produtos financeiros (empréstimos e investimentos) intitulados como sustentáveis.
Funcionamento das Taxonomias Verdes:
Entendendo os tipos de taxonomia que podem ser desenvolvidos, devemos ainda ter a clareza que o principal objetivo do desenvolvimento de uma taxonomia é baseado no interesse gerado aos seus usuários, sendo que basicamente estes podem ter finalidades específicas. No caso dos bancos e instituições financeiras, a finalidade da taxonomia é reduzir risco reputacional e financeiro, direcionar esforços para aumento dos investimentos verdes e reduzir os custos de operacionalização.
Já no caso dos investidores, a finalidade é identificar as oportunidades de investimento que de fato estejam conectadas com seus objetivos. Olhando para os desenvolvedores e formadores de políticas, a finalidade da taxonomia é desenvolver uma carteira de projetos baseados nas prioridades nacionalistas e ainda identificar projetos que alinhem a transição de forma menos custosa. Além destes atores, temos também as agências que regulam as operações financeiras e estas se beneficiam com o desenvolvimento das taxonomias verdes através do aprimoramento dos reports coletivos e ainda utilizam da ferramenta como suporte para evitar os riscos de “Greenwashing”.
Taxonomia Verde no Brasil
Olhando exclusivamente para o Brasil, o ministério da Fazenda no ano de 2023, liberou para consulta pública a “taxonomia sustentável brasileira” que executa seu ranqueamento de atividades econômicas baseada no foco de mitigar as mudanças climáticas, manejo e uso sustentável dos recursos naturais, redução de desigualdades e melhor adaptação às mudanças climáticas. No projeto nacional, a taxonomia brasileira é baseada em CNAEs (classificação nacional de atividades econômicas) e apenas oito setores estão sujeitos a esses critérios (muito baseados em taxonomias de países como a Colômbia).
Na prática, o ranqueamento das atividades econômicas auxilia para um processo de transição para uma economia verde de forma mais competitiva, gerando clareza para quem participa dos processos de investimento em projetos sustentáveis e ainda, auxilia no desenvolvimento de práticas setoriais que gerem impacto positivo em relação às questões ESG acelerando o processo de redução de impactos.
Através de tal estratégia, é possível somatizar diversos contextos importantes já preestabelecidos anteriormente junto as necessidades sustentáveis a serem desenvolvidas construindo assim atividades econômicas mais competitivas e verdes.
Fontes pesquisadas:
– FEBRABAN (Federação brasileira dos bancos)
– Capital Reset
– Banco mundial
Texto por Luiz Goi, Consultor ESG Sênior.