Autora: Camila Fagundes
Head de Sustentabilidade e ESG na Ecovalor
Nos últimos anos, o termo ESG deixou de ser apenas uma pauta de sustentabilidade ambiental ou responsabilidade corporativa. Ele passou a ocupar o centro da estratégia de muitas empresas. A tríade Ambiental, Social e Governança define critérios que vão além do discurso. Ela reflete a maturidade das organizações diante do impacto que causam no mundo.
Nesse cenário, o “S” — de Social — começa a assumir o protagonismo que merece. Afinal, a maneira como uma empresa trata seus colaboradores, fornecedores e comunidades influencia diretamente sua reputação, seu desempenho e sua capacidade de atrair e reter talentos.
Este artigo explora os avanços que o ESG e o bem-estar dos colaboradores proporciona, os desafios que ainda persistem e exemplos de boas práticas em empresas brasileiras.
O impacto do “S” do ESG no bem-estar dos colaboradores
Ao analisarmos a sigla ESG, especialmente o “S”, percebemos seu grande significado. Ele se refere à forma como a empresa trata as pessoas, tanto interna quanto externamente.
Empresas que adotam de forma séria os princípios ESG tendem a investir mais em saúde ocupacional, segurança no trabalho, programas de saúde mental, diversidade e inclusão. Além disso, essas organizações criam ambientes mais humanos e colaborativos. Tais iniciativas são cada vez mais valorizadas por profissionais de diferentes áreas e níveis hierárquicos.
Nos últimos anos, ficou evidente que os profissionais não buscam apenas reconhecimento financeiro. Benefícios ligados à saúde e ao bem-estar se tornaram prioridades. À medida que a empresa investe nessas áreas, os resultados aparecem de forma quase imediata. A consequência direta é um maior engajamento dos colaboradores e melhor desempenho frente aos desafios do dia a dia.
O que ainda precisa ser aprimorado?
Apesar dos avanços, ainda enfrentamos desafios relevantes. As práticas relacionadas ao “S” do ESG continuam sendo pouco monitoradas. Isso resulta na escassez de dados para avaliar sua eficácia e para orientar projetos de melhoria contínua.
Outro ponto importante é a concentração das ações voltadas ao “S” apenas em cargos administrativos ou de liderança. Muitas vezes, trabalhadores operacionais e da base da pirâmide ficam de fora. Essa exclusão pode gerar efeitos negativos significativos, como desmotivação, queda na produtividade e até desligamentos.
Além disso, temas como saúde mental, diversidade e inclusão ainda enfrentam barreiras. Em muitos casos, as lideranças não estão preparadas para lidar com essas questões delicadas. Isso compromete a efetividade das ações institucionais. Nesse sentido, é essencial que as empresas capacitem suas lideranças para entender e aplicar essas iniciativas da melhor forma possível.
Exemplos concretos de boas práticas no Brasil
Ao analisar Relatórios de Sustentabilidade de empresas brasileiras, é possível identificar iniciativas que realmente valorizam o “S” do ESG. Um dos exemplos mais emblemáticos é a Natura&Co.
A empresa mantém programas robustos de saúde e segurança ocupacional. Todos estão alinhados a normas internacionais, garantindo ambientes de trabalho seguros e saudáveis para os colaboradores. Além disso, a Natura&Co reconhece a importância da saúde mental. Por isso, criou programas de apoio psicológico, com acesso a telemedicina e recursos de suporte emocional.
Durante a pandemia de Covid-19, por exemplo, a empresa ofereceu apoio específico para saúde mental e luto. Ela também incentivou o contato virtual entre colegas, amigos e familiares, como forma de preservar o bem-estar emocional dos profissionais.
Outro episódio marcante ocorreu durante as enchentes de maio de 2024 no Rio Grande do Sul. As empresas da região enfrentaram desafios extremos e precisaram agir de maneira ágil, solidária e humanizada. A situação exigiu ações que foram além da responsabilidade social tradicional.
Diversas organizações reorganizaram suas operações para proteger os colaboradores. Algumas mobilizaram recursos logísticos para transportar doações, cederam espaços físicos para abrigar desabrigados, concederam licenças remuneradas a funcionários impactados e ofereceram apoio psicológico por meio de programas internos.
A resposta do setor privado diante desse desastre evidenciou a importância de estratégias de gestão de riscos climáticos. Além disso, mostrou a necessidade de planos socioambientais mais sólidos, voltados à resiliência e ao cuidado com as pessoas.
Caminhos para o futuro: ESG como ferramenta de transformação humana
O mundo mudou — e continua mudando. Para acompanhar esse ritmo, as empresas precisam repensar seus modelos, suas práticas e seu impacto na sociedade.
O “S” do ESG não pode ser encarado apenas como uma diretriz simbólica. Ele deve guiar decisões reais, com ações mensuráveis, inclusivas e acessíveis a todos os níveis da organização.
Mais do que uma tendência corporativa, cuidar das pessoas é uma estratégia que fortalece vínculos e gera valor de forma sustentável. Quanto mais consistentes forem essas práticas, mais forte será a conexão entre empresas e profissionais.